quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A História de Jorge e Teodora

A HISTÓRIA DE JORGE E THEODORA

No ano de setenta e um

Eu pensei em melhorar,

Vendi tudo o que eu tinha

E viajei para o Pará.

Foi um passo muito errado,

Só fui me naufragar.


Mas mesmo assim não desanimo

E nem devo me perturbar

Porque o ímã do homem

É aquilo que pensar.

O destino quem dá é Deus

Para a sorte melhorar


Mas ainda hoje eu penso

Para lá tornar voltar,

Depois eu peço a Deus

Para este pensamento afastar,

Porque eu, mulher e filhos

Não saíamos do hospital.


A febre naquela região

Era uma calamidade,

Só se via era o clamor

Em todo o povo da cidade.

Uns diziam: vou me embora

Para minha terra natal


Outros diziam; ó hora malvada

A que saí da minha terra, 

Sem ter precisão de nada,

Para vir para esta terra

Tão sofrida e angustiada

E viver nessa miséria.


Isto que estou dizendo

É a mais pura verdade,

Falo e dou testemunho

Com toda a sinceridade,

Porque eu nunca menti,

Só digo sempre a verdade.


Parece uma novela

O que comigo se passou,

Uma vaca traiçoeira

Lá na manga me pegou

E me jogou para cima

E meu espinhaço deslocou.


A vaca era perigosa,

O chifre era um espantão,

Ela me suspendeu

E me jogou num buracão,

E ela ficou de fora

Turrando como um leão


O que comigo se passou

Naquela hora fatal

Foi um momento infeliz

Em que não pensava no mal,

Mas quando foi no outro dia,

Fui parar no hospital


A dor era tão grande,

Que eu estava sem sentido.

Minha esposa foi ao médico

E logo lhe fez um pedido:

Doutor, por caridade,

Atenda o meu marido:


Ele respondeu para ela,

Dizendo desta maneira,

Logo ele é consultado

E a senhora é a primeira.

Levou-me ao consultório

E deu pressa às enfermeiras


Ouvi o médico falar,

Este foi um infeliz,

Dizendo para a minha esposa,

Isto sou eu quem lhe diz:

Já dei nele um banho de luz

E passei no raio-x.


Ouvi também o médico dizer:

Este é um caboclo aprumado,

O que ele está sentindo

É um caso bem pesado,

Muito sangue na bexiga

E o espinhaço deslocado.


Fui para um quarto de primeira

E fui bem recomendado.

O médico era gente boa,

Viva sempre ao meu lado, 

E dizia às enfermeiras:

Tratem com todo o cuidado.


Doutor Régis é gente boa,

Hoje eu posso falar, 

Ali nada me faltava

Naquele grande hospital,

Foi o que aconteceu comigo

Naquele mundo de lá.


Muitos vão para aquela terra

É somente por influência,

Não pensam nas dificuldades

E nem tão pouco nas doenças

E nas confusões de terras

Que provocam desavenças.


As terras são muitos boas

Para tudo que se pensar, 

Uns vão ricos e ficam pobres

E outros, pobres, para enricar.

Mas a riqueza é um encanto

Que vem e torna voltar.


Não falo do Maranhão

Porque lá eu não morei,

Eu só falo do Pará

Porque lá eu me encontrei,

Não está escrito no gibi

Aquilo que eu passei.


Quando eu recebi alta

Para sair do hospital,

Ia chegando um dos filhos

Que já estava muito mal.

A febre era tão grande

Que não podia falar.


Eu só dizia assim:

Meu Deus, o que vou fazer?

Aí, eu logo dizia:

Tudo há de acontecer,

Nosso Senhor Jesus Cristo

É quem vem nos socorrer.


Quando estava com quinze dias

Do acidente passado,

O médico falou comigo:

Você está recuperado,

Mas tenha muito cuidado

Com este osso deslocado.


Quando estava com noventa dias

Eu estava recuperado, 

Comecei a trabalhar

Na derrubada de um roçado,

Levei outro contratempo

E fiquei inutilizado.


Voltei novamente ao médico,

Que já era bem conhecido,

Minha esposa falou com ele

E fez o mesmo pedido:

Doutor, por caridade,

Atenda o meu marido:


Ele disse para ela,

Este caso é complicado,

Ele não vai ter mais vida,

Pois o estômago está furado.

Eu disse: Quero operar,

Assim morro aliviado.


Então me levou para a banca

Para fazer a cirurgia,

Às cinco horas da tarde,

Já estava findando o dia,

Quando saí da banca

Eram duas do outro dia.


Com vinte horas eu escutei

Uma grande gargalhada,

Logo eu abri os olhos

E vi aquela rapaziada,

Três médicos e minha família

E toda aquela parentada.


O doutor me perguntou,

O que foi que você falou?

Torna a falar camarada.

Eu disse: Quebraram os meus braços,

E os meus olhos estão furados;

Ele disse: Nada disto,

Você está atrapalhado.


Logo eu fui melhorando,

Graças a meu Senhor Jesus Cristo

Tenho que vencer tudo

Que para mim possa vir

Pois Deus me dá o conforto

E com Ele, tudo eu resisto.


Quando foi no outro dia,

Ouvi minha esposa falar:

Doutor, faça o favor,

Eu quero lhe perguntar,

Quanto lhe pagarei

Pelas despesas do hospital?


Ele falou para ela,

Esta conta eu vou lhe dar,

Pois vocês são gente boa,

Não vou lhes explorar.

Só pagam um milhão e quinhentos,

Mas para ninguém vão falar.


Mas graças a Nosso Senhor,

Tudo isto se passou,

Foi uma grande tempestade

Que o vento veio e levou,

Mas a fé e a esperança

Nunca de mim se afastou


Ainda estou vivendo

Conforme Deus é servido,

Nunca me faltou o pão 

Pelo amor do Pai Querido,

Que é forte e poderoso

E nuca sai do meu sentido.


Amigos, prestem atenção

Naquilo que estou dizendo,

Falo para vocês

No momento que estou escrevendo,

Peço que prestem atenção,

Para ficar bem entendido.


O que meus pais me diziam,

Hoje estou compreendendo,

O sofrimento dos outros

A gente não está vivendo,

Mas quem sabe a dor que sente

É aquele que está sofrendo.


Voltei de novo para trás,

Tudo se acabou:

Dinheiro, gado e terra,

Nada disto mais ficou,

Peço meus queridos netos,

Ouçam o conselho do vovô.


Hoje só resta em mim

Amor, paz e amizade.

Toda vida eu fui bem quisto

Em toda a sociedade.

Só o que resta em bens

É uma barraquinha na cidade.


Vou contar para vocês

Quem lá em casa tinha chegado,

Ele já é falecido, 

O seu tempo foi marcado,

Chamava-se João Soares,

Meu grande amigo e cunhado.


Dele não posso esquecer

Nem um instante nem uma hora,

Trago sempre retratado

Dentro da minha memória,

Pedindo a Nosso Senhor

Que lhe dê o reino de glória.


Se eu ouvisse os conselhos

Que tantos amigos me davam,

Hoje eu estaria muito bem,

Nada para mim faltava,

Mas mesmo assim vou vivendo

Do jeito que eu gostava.


Vou terminar esta história

De uma forma verdadeira

Pois fala do meu sofrimento

E de minha companheira,

Escrevendo aqui o meu nome,

Que é: Jorge Jose de Oliveira.